Um retrato biográfico, um exercício de experimentação de formas, imagem interpretando imagem: o documentário “Vida em Cores”, do diretor Leandro Peska, volta-se para a arte visual de Sebastião Mendes. O curta-metragem de 12 minutos se propõe a esquadrinhar o processo criativo do artista mato-grossense, investigando influencias e técnicas, atando memórias a escolhas plásticas e lançando um olhar intimista a uma obra que tem esgarçado os limites de seu país. O filme, que é o primeiro finalizado pelo cineasta, estreou no 2º Festival de Cinema de Cáceres “Olhares do Pantanal”, encerrado no último domingo, 15. A atividade teve a parceria do Campus Universitário de Cáceres e da Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proec) da Universidade do Estado de Mato Grosso. Concepção Mendes e Peska são naturais de Cáceres e se conheceram por meio do pai do diretor. “Sempre me interessei pelo campo artístico em geral e meu pai tinha algumas obras dele. Vim ar um fim de ano em Cáceres e decidi fazer a filmagem. Acompanhei o Sebastião por três dias para produzir o documentário.” A captação foi realizada em dezembro de 2011. Os três dias daquele ano se converteram em 6 horas de gravação. As 6 horas, em 3 horas e meia de material selecionado e por fim, 12 minutos de corte final. “Fiz todo o processo de seleção e edição do material. Só não trabalhei com a trilha sonora.” As canções que integram a trilha foram compostas especialmente para o filme pelo músico do Rio de Janeiro Dudu Godoi. O diretor optou por deixar que Sebastião falasse por si mesmo, sem off’s ou mediações. O documentário é todo narrado em primeira pessoa, posicionado num espaço de testemunha daquilo que é dito e criado pelo artista. “Quis apenas acompanhar o Sebastião. Ele disse que ainda não tinha conseguido antes pintar e ao mesmo tempo conversar sobre o trabalho dele.” E a câmera o acompanha produzindo em seu ateliê, na casa de barro em que nasceu, em locais onde tem seus quadros expostos, pelas ruas de Cáceres. A produção se enquadra numa estética realista e num tempo linear. “Quase não fiz tratamento de imagens até porque estava filmando um objeto já cheio de cores e estilo. Também escolhi fazer uma narração que começa com o início da produção de Sebastião, que parte da casa onde ele foi criado.” “Um pouco da vida da gente” Este é o primeiro documentário que retrata a obra de Sebastião Mendes. Ele se diz feliz por poder falar de seu trabalho nessa outra linguagem. “Para mim como artista é muito gratificante. Ainda mais porque é um cineasta cacerense que vai contar um pouco da vida da gente não só em Mato Grosso, mas no Brasil e fora do Brasil. Graças a Deus meu trabalho tem ganhado espaço em outros lugares.” Entre cores e personagens Peska quer continuar elegendo personagens e contando suas histórias por meio de documentários. Formado há três anos em Cinema, diz se interessar também pela produção ficcional e por cores. “A alegria das cores de Mendes, o azul de sua obra, os tons que podem ir mudando ao longo do processo de criação da tela chamaram a minha atenção.” O diretor também acompanhou a recepção do público ao documentário. “Foi muito positiva. Eles gostaram do assunto, das imagens...” As cores centralizam também o título do filme, podendo remeter ao entorno de Mendes, menino que se ergueu entre elas e os maus agouros da avó por riscar no chão ou à expressividade dos tons dados às grandes figuras humanas que marcaram o estilo do já feito pintor. O curta recebeu o Prêmio do Júri Popular na mostra competitiva do Festival de Cinema de Cáceres. A intenção é que “Vida em Cores” abra caminho a um novo projeto sobre Mendes desenvolvido pelo diretor: um longa-metragem.